Ainda estão bem presentes os traços de minério espalhados pelo caminho que vamos percorrendo. Os carris que outrora transportaram a pirite desapareceram e hoje nada mais resta que uma estrada de terra avermelhada salpicada de nódoas que o tempo não conseguiu apagar.
O valioso tesouro retirado do subsolo conseguiu trazer durante mais de cem anos o progresso até ás planícies alentejanas, criou empregos, fez nascer uma aldeia e pôs diariamente pão na mesa das gentes locais.
Foram anos áureos que se prolongaram durante várias gerações e onde o trabalho, apesar de exigente, chamava a São Domingos gentes de Portugal e Espanha.
Numa altura em que a electricidade ainda era uma palavra desconhecida para a maior parte da população, este lugar perdido no interior Alentejano, viu nascer a primeira linha férrea de Portugal.
Mas um dia tudo acabou. O minério extinguiu-se, as máquinas desligaram-se, as pessoas foram embora e o Guadiana voltou a ficar em silêncio. Ficaram também as cicatrizes e o solo contaminado que em certos locais parece não ter força para voltar a gerar vida.
Passaram mais de cinquenta anos desde que o último carregamento de minério foi extraído e da antiga mina de São Domingos já só restam as carcaças de meia dúzia de edifícios que nos lembram a presença de um dos grandes centros industriais do país.
Deixámos o carro perto do grande lago de águas ácidas, quase pretas, e onde pela primeira vez sentimos o cheiro a enxofre que nos acompanhará durante o próximo par de horas.
De onde nos encontramos avistam-se meia dúzia de estruturas de ferro ferrugentas parcialmente engolidas pela vegetação. Que paisagem estranha, é como se de repente fossemos transportados para uma outra dimensão.
Contudo tudo isto é real. Estamos aqui e meio século depois queremos sentir, nem que seja por momentos, um pouco da energia de outros tempos.
Ao longo da estrada fazemos questão de entrar em cada um daqueles pavilhões decadentes onde os telhados cederam ao peso dos anos e as janelas e as portas se abriram para sempre.
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Os quilómetros vão-nos trazendo à vista chaminés de tijolo que ameaçam tombar a qualquer momento, fornos de tamanho anormal e um par de torres de feitio estranho que não conseguimos perceber qual a sua função.
Esta terra de ninguém é imensa. Ao longo do núcleo industrial repetem-se os edifícios moribundos, o cheiro a enxofre, o pó que segue os nossos passos e o silêncio. Sobretudo o silêncio que nunca nos abandonou durante esta viagem ao passado que começou na pequena vila mineira e só acabou perto da aldeia de Santana de Cambas.
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