Ainda nem sequer atravessámos por completo a Puente de Alcântara e já temos plena consciência do quão bonita é a cidade de Toledo. Altaneira, seduzindo tudo o que a rodeia e abraçada pelo "nosso" Rio Tejo que por terras castelhanas não tem o mesmo destaque, mas que perante o nosso olhar permanece incondicionalmente lindo. É aliás com este velho conhecido que trocamos as primeiras palavras deste dia, despedindo-nos de seguida com promessas de um novo encontro nos dias que se seguem já em Portugal.
Depois da majestosa ponte, acedemos ao interior da muralha através de um par de portais de aparência mourisca que por sua vez desembocam numa escadaria que galga a encosta até às imediações da Plaza de Zocodover. Aí, e apesar do movimento de pessoas ser considerável, constatamos mais uma vez que a vertente comercial do país vizinho desperta diariamente a horas tardias. Quanto ao espaço não nos cativa e seguimos em busca de novos estímulos.
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Pelo canto do olho já se avista uma das torres do Alcazar de Toledo que nada se assemelha à obra medieval que conhecemos em Segóvia, mas que ainda assim não deixa de despertar em nós uma quase incontrolável vontade de o admirar mais de perto. Depois de uns minutos de desorientação, ficamos a saber que a entrada no edifício só pode ser feita através do Museu Militar e num piscar de olhos já nos encontramos no balcão de acolhimento que desempenha igualmente o papel de bilheteira. Há que pagar para poder visitar a área mais extensa do monumento onde, segundo nos foi dito, decorre uma exposição permanente que retrata numa espécie de cronologia alguns períodos de destaque da histórica do país. Prescindimos dessa opção e ficamo-nos pela zona de acesso gratuito que, apesar de menos interessante, inclui passagens por alguns vestígios arqueológicos e pelos jardins. É precisamente a partir desse espaço exterior que conseguimos ter desafogadas vistas sobre alguns dos locais que ainda há pouco pisávamos, e ainda que isso não seja justificação para alongarmos demasiado a visita, acabamos por ali ficar mais do que seria expectável na esperança de que no nosso regresso à rua a cidade já tenha despertado definitivamente.
É com entusiasmo que nos deixamos engolir pelo ambiente pitoresco presente no centro histórico onde a malha urbana ainda permanece trajada de vestes medievais. Sucessivos caminhos de pedra irregular conduzem-nos através de uma espécie de labirinto de grandes dimensões que apesar dos inúmeros avanços e recuos acaba por ser solucionado com a nossa chegada à grandiosa Catedral de Toledo. Escondido por entre o denso casario, o edifício, apesar de imponente, não tem o destaque que uma obra desta envergadura merece, e até para a tão desejada foto foi difícil conseguir um anglo privilegiado que testemunhasse a verdadeira escala do monumento.
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Tal como já havia sucedido em Segóvia e Ávila, também agora nos rendemo-nos à importância histórica do local e excepcionalmente metemos de lado a nossa resiliência em desembolsar dinheiro para aceder a um qualquer espaço sagrado.
A entrada é feita por uma porta lateral de aparência modesta e já envolvidos pela imponente obra, a nossa resistência inicial acaba por dar rapidamente lugar ao deslumbramento, convencendo-nos de que todos os elogios a ela dirigidos são mais que merecidos.
De imediato o botão da máquina fotográfica não cessa de disparar, tentando que cada detalhe, cada sombra ou cada escultura permaneçam eternizados no já bem recheado cartão de memória. Para além de alguns grupos de turistas, estranhamente são poucas as pessoas que connosco dividem os espaço, permitindo-nos assim longos momentos de privacidade, especialmente aquando da nossa passagem pelas áreas mais emblemáticas do monumento. É ai, no claustro, na sacristia, na sala capitular, no coro ou na capela mayor que o olhar mais se alimenta da beleza envolvente.
Para além da vertente estética, o conhecimento também saiu enriquecido com a visita à Catedral, uma vez que o audio-guide fornecido em conjunto com o ingresso é um valioso instrumento para a compreensão de uma boa parte dos locais e experiências que surgiam no nosso caminho.
Por muito que a nossa passagem por Toledo ainda esteja longe de terminar, este local será sem qualquer dúvida um dos pontos altos do dia.
Lá fora a vida mantém-se fiel ao que testemunhámos anteriormente. Sem as multidões que invadem a cidade nos meses de verão, até a Plaza del Ayuntamiento parece demasiado grande perante a fraca presença de visitantes.
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Toledo é fértil em antigas residências palacianas e é à passagem pelo vistoso Palácio de Fuensalida que algo familiar atrai a nossa atenção e nos obriga a fazer nova pausa. Uma antiga tapeçaria na qual se encontra representado o brasão de armas de Portugal, exibida no hall principal do edifício, é motivo mais que suficiente para inquirirmos o segurança de serviço sobre a presença de tal adereço naquelas latitudes.
Aparentemente foi neste local que a Imperatriz Isabel de Portugal se instalou durante o século XVI, acabando por ali falecer em Abril de 1539.
Por mais que gostássemos de conhecer um pouco mais o espaço, não nos adentramos demasiado uma vez que só somos autorizados a dar uma rápida vista de olhos no pátio central.
Dez minutos e uma mão cheia de fotografias mais tarde, o Monasterio/Iglesia de San Juan de los Reyes faz a sua triunfal aparição no momento em que damos os derradeiros passos na movimentada Calle de los Reyes Católicos. As robustas paredes crivadas de detalhes de estilo gótico encaminham-nos até uma bonita praça que se enquadra na perfeição com a monumental fachada desta obra erguida para comemorar a vitória sobre os portugueses na batalha de Toro. Se o objetivo era admirar o interior do monumento, rapidamente constatámos que não teríamos essa sorte uma vez que os nossos intentos acabariam por esbarrar na pequena porta de madeira que por agora se mantém encerrada.
Entretanto, enquanto organizamos as ideias para as horas que nos sobram, apreciamos a paisagem a partir de uma espécie de varandim ali existente e de onde a vista volta a marcar encontro com as águas do Rio Tejo que sem pressas deslizam sob uma bem conservada ponte de pedra. Gostamos do panorama que nos é oferecido e com o olhar saciado não hesitamos em descer a íngreme escadaria que certamente nos levará até bem perto do local onde um grupo de jovens destemidos testam os limites da adrenalina enquanto se lançam numa curta mas vertiginosa viagem de zip-line entre as duas margens do já referido curso de água. Quanto a nós, e pouco amigos deste tipo de experiências, limitamo-nos a observá-los a partir do tabuleiro da Puente San Martin.
A Puerta del Cambrón é só um dos vários antigos acessos à cidade que contamos conhecer, este em particular situado na vertente ocidental da muralha e através do qual abandonamos temporariamente o casco antigo. Caminha-se agora para lá dos limites exteriores do burgo. Por largos minutos avançamos ao longo de uma movimentada estrada que poucos motivos de interesse acrescenta ao passeio mas que segundo constatámos nos proporcionará uma aproximação mais linear á espetacular Puerta de Bisagra. Teimoso o nosso olhar insiste em fixar-se no brazão que encabeça o imponente portal que tal como no passado continua a impressionar todos os que escolhem este local para penetrar na cidade velha.
A dois passos de onde nos encontramos, uma Igreja que não havíamos assinalado como ponto de interesse, acaba por chamar a nossa atenção. Aproximamo-nos e na esperança de saber um pouco mais sobre o monumento, fazemos uma pesquisa rápida on-line que nos revela tratar-se da Iglesia de Santiago del Arrabal, cuja construção teve dedo de um monarca português.
Por muito que a quiséssemos visitar constatamos que se encontra encerrada e assim sendo, contentamo-nos com uma breve apreciação do exterior.
O dia escoa-se e a paisagem urbana de Toledo vai amadurecendo com os tons quentes trazidos pelo final da tarde. Situamo-nos com a ajuda do gps e apercebemo-nos que estamos relativamente próximos de outra das icónicas portas da cidade, e pelas imagens apresentadas não irá certamente deixar-nos desapontados. Sempre a subir, cruzamo-nos agora com meia dúzia de pequenas lojas que ganham a vida a vender artigos de qualidade duvidosa aos turistas que fazem questão de regressar a casa com um recuerdo na bagagem. Quanto a nós ainda lançámos o olhar a um ímã engraçado, contudo o preço extremamente inflacionado só contribuiu para que seguíssemos viagem num passo ainda mais acelerado.
O primeiro vislumbre da Puerta del Sol tem o condão de nos fazer esquecer a compra que afinal não aconteceu, e mesmo parcialmente coberta pelas sombras trazidas pelo final de tarde, não lhe negamos uns instantes de contemplação. Ainda que o passeio pudesse muito bem ter continuado pela estrada que segue sob o estreito arco de pedra que temos diante nós, optamos por subir a escadaria situada na extremidade oposta que mais adiante desemboca numa outra porta de aspeto bem mais modesto. Confessamos que nunca ficámos a saber o nome deste local, mas dificilmente nos esqueceremos do edifício que connosco se cruzou assim que transpusemos a muralha.
É à Mezquita del Cristo de la Luz que nos referimos e agora que gastamos os derradeiros cartuxos da nossa visita, vêmo-la como uma pincelada de exotismo no meio de um entrelaçado de estreitas ruas onde o sol já não tem força para entrar. Apesar de ter sido convertido numa Igreja, o monumento mantém-se orgulhosamente fiel às suas raízes mouriscas uma vez que tanto no exterior como no interior os detalhes da religião Islâmica saltam imediatamente à vista.
No início do dia, quando ainda dávamos os primeiros passos na cidade, passámos pelo Museu de Santa Cruz que por ser demasiado cedo ainda não havia aberto as portas. Agora e já em jeito de despedida, podemos enfim visitar este antigo hospital, tentando que nesta espécie de último suspiro sejamos presenteados com mais uma experiência enriquecedora.
O acervo é inequivocamente valioso, composto por um número incontável de peças com interesse histórico e que vão desde vestígios arqueológicos a arte contemporânea, passando pelas obras do famoso artista El Greco. Tudo isto bem organizado num espaço enorme que tem na arquitetura um dos seus principais pontos de interesse. O acesso gratuito é outro ponto a favor.
Gostaríamos de ter prolongado um pouco mais a nossa passagem pela cidade mas temos plena consciência de que não nos podemos sobrepor a factores tão simples como o horário do autocarro que nos levará de volta a Madrid.
A Toledo não podemos deixar de lhe agradecer por nos ter proporcionado um dia memorável, ao Rio Tejo, e como prometido, já nos voltámos a encontrar e por entre um sorriso e um piscar de olhos, confessámos-lhe que por terras lusas as suas águas são inegavelmente mais belas.
INFORMAÇÕES ÚTEIS:
.COMO CHEGAR A TOLEDO
Ainda que isso implique uma viagem relativamente longa, é perfeitamente possível chegar a Toledo de carro tendo como ponto de partida um qualquer local de Portugal. Voar para Madrid é outra das opções. A partir da capital de Espanha poderá depois apanhar um autocarro que em menos de uma hora realiza o trajeto entre os dois locais. A viagem utilizando este meio de transporte é rápida, confortável e relativamente barata.
.QUAL A MELHOR ALTURA PARA VISITAR TOLEDO
Toledo é uma cidade que se pode visitar em qualquer época do ano apesar de ser preferível planear a sua visita na altura da Primavera ou no Outono. Durante esses períodos não só as temperaturas são mais agradáveis como também existirá uma menor probabilidade de precipitação.
No verão, em especial durante os meses de Julho e Agosto o forte calor que se faz sentir nesta região poderá eventualmente condicionar as visitas. No inverno para além do maior risco de ocorrência de chuva, as baixas temperaturas são presença praticamente garantida, exigindo assim um ou mais agasalhos extra.
Seja como for nenhum destes fatores deverá ser impeditivo para que possa ter uma excelente estadia na cidade.
Nós visitámos Toledo no mês de Novembro e a nossa escolha acabou por se revelar a uma aposta ganha uma vez que não nos deparámos com grandes confusões e até a meteorologia, apesar de fresca, fez questão de nos presentear com bonitos dias de sol.
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