O dia começou com uma espécie de murro no estômago.
O tempo ventoso que ainda há dois dias quase cancelou o nosso passeio de barco pelas Ilhas Ballestas esta de volta e hoje ameaça a realização a principal atividade que temos reservada para este dia.
Voar sobre as Linhas de Nazca é um dos objetivos que transportamos na mochila durante esta viagem pelo Peru. É algo que queremos muito e um sonho de há vários anos!
As ruas sem cor da cidade de Ica vão ficando para trás até que desaparecem por completo. Do lado de lá das grandes janelas do moderno autocarro vemos desfilar uma imensidão de terras áridas que ao longe parecem tocar aquela gigantesca parede de nuvens cinzentas.
Faltam poucos minutos para as nove da manhã quando desembarcamos no terminal rodoviário de Nazca, e naquelas duas horas de viagem a meteorologia pouco ou nada se alterou. Enquanto caminhamos em busca de um táxi que nos transporte até ao aeródromo, cruzamo-nos e entramos numa pequena loja da Aero Paracas onde a simpática funcionaria acaba por confirmar os nosso receios.
"Por agora os voos estão suspensos, contudo prevê-se que as condições melhorem lá mais para o final da manhã...há muita gente a cancelar os voos e como vocês não têm reserva pode ser que tenham sorte!"
Apesar de vagas, aquelas palavras acabam por ter um efeito moralizador, abrindo uma janela de esperança nos nossos intentos.
No aeródromo a confusão é grande. São muitas as pessoas que preenchem o minúsculo edifício, fazendo fila ao longo dos diversos balcões, tentando inteirar-se da situação que por agora se mantém inalterada.
Com algum esforço conseguimos chegar à fala com um dos rapazes que se ocupa do balcão da Aero Paracas que nos garante que o tempo está a melhorar e que por volta das onze horas saem os primeiros voos.
"Há três ou quatro avionetas a fazer testes e pensa-se que vão regressar com boas noticias". -complementa o jovem com ar de quem sabe do que fala.
"E preços? Parece que há muita gente a cancelar..."
Os cancelamentos efetuados por parte de alguns grupos de turistas acabaram por ser um ponto a nosso favor e de forma quase surpreendente conseguimos reservar por 60 USD por pessoa, com a garantia de que o dinheiro nos seria devolvido se as condições meteorológicas não permitissem a realização do passeio.
.E não foi preciso esperar muito até recebermos a noticia por que tanto esperávamos.
"-O vento abrandou e dentro de meia hora as avionetas iniciam os voos".
A mensagem que rapidamente se espalha por todo o terminal tem o condão de transformar por completo as expressões faciais de quem por ali aguardava já com pouca paciência.
Já passava da uma da tarde quando fomos chamados. Instintivamente sorrimos um para o outro e as poucas palavras que soltamos naqueles metros que nos separam da pequena aeronave são o reflexo do nervoso miudinho que nos percorre o corpo.
Embarcamos e a partir daquele momento e durante cerca de meia hora, a avioneta sobe, desce, vira à esquerda e à direita de forma a que tenhamos a melhor visão das enormes gravuras que vão surgindo lá em baixo.
São trinta minutos que se traduzem num vendaval de emoções que dificilmente consigo transmitir em palavras.
Ficam as imagens...
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