Ainda que muitas vezes faça questão de visitar algumas igrejas que pela sua beleza ou importância histórica merecem ser incluídas no roteiro traçado, a verdade é que não tenho por hábito focar-me inteiramente na vertente religiosa do destino escolhido. Não posso dizer que me identifique com este ou aquele credo religioso mas também nunca permiti que essa ausência de crença me impedisse de entrar num qualquer templo ou igreja, até porque, na maioria dos casos estes locais guardam no seu interior importantes obras de arte sacra.
Contudo já fui confrontado com demonstrações de fé tão intensas que em alguns casos acabaram por fazer vergar o modo racional com que tento encarar a religião. Dito isto e apesar do meu ceticismo em relação à adoração divina e perante algumas coisas que testemunhei, já cheguei a ponderar se não haverá mesmo uma força muito especial que comanda os sentimentos e as atitudes de algumas pessoas.
Foi talvez por essa razão que, aquando da minha passagem por Perúgia, fiz questão de guardar um dia para conhecer não só a charmosa cidade de Assis mas também o complexo religioso dedicado a São Francisco.
Chegámos cedo, ainda antes das torrentes de fiéis tomarem conta das principais artérias da cidade. O autocarro deixou-nos no terminal rodoviário, já bem perto da Porta Nuova que depois de transposta nos conduziu a um emaranhado de estreitas ruas e vielas empedradas tão típicas desta região. Sempre sozinhos, e uma vez que não havíamos feito grandes planos, deixámo-nos levar pelo instinto, permitindo desta forma que a pitoresca cidade se fosse dando a conhecer.
E que vaidosa ela é, toda aperaltada com flores coloridas nos beirais das janelas.
A primeira paragem acontece na bonita Piazza del Comune onde bebemos um delicioso Cappuccino depois de uma breve passagem pelo posto de Turismo. Estamos claramente no coração da cidade e são diversos os pontos de interesse situados a dois passos deste local. A Torre del Popolo, o Foro Romano, o Museu Arqueológico ou a Fontana dei Tre Leoni são só alguns dos locais que merecem ser incluídos num qualquer roteiro turístico.
Para além disso, as muitas igrejas com que nos vamos cruzando não deixam dúvidas sobre o cariz religioso de Assis e, de entre todas, é a Catedral de São Rufino que primeiro acaba por cativar a nossa atenção. Esta obra é um dos mais significativos exemplos da arte românica da região da Úmbria e segundo constatámos foi erguida em homenagem ao santo padroeiro da cidade.
Contudo a visita é realizada sem grandes demoras, até porque o interior do templo acaba por não fazer jus às expetativas inicialmente criadas, uma vez que nos deparámos com um espaço de aspeto sóbrio, sem grandes destaques na decoração.
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Continuamos, e agora o objetivo é alcançar a imponente fortaleza medieval situada no ponto mais elevado da cidade. Para já, as temperaturas insistem em manter-se em níveis relativamente baixos para a época e uma vez chegados ao topo da colina o vento gélido que se faz sentir obriga-nos a proteger o corpo com uma agasalho extra. Diante nós ergue-se a imponente Rocca Maggiore que se no passado se revelou uma importante linha de defesa da cidade, é hoje um pedaço da história do país que gostávamos muito de ter visitado não fosse o preço dos ingressos se situar um pouco acima do que estávamos dispostos a gastar. Ainda assim não demos a viagem por perdida e aproveitámos a posição estratégica para apreciar as vistas sobre a região.
Na tentativa de ganhar vantagem em relação a esta inesperada multidão aceleramos o passo para que a visita ao Santuário de São Francisco aconteça de uma forma relativamente tranquila. À medida que avançávamos pela Via San Francesco, e perante uma tão acentuada mudança de cenário, questionamo-nos uma e outra vez se não teria sido melhor ter dado prioridade a esta área. No final a nossa correria acabou por ser recompensada e apesar da lotação do espaço se encontrar já bastante composta, ainda tivemos a oportunidade de o percorrer sem grandes apertos.
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A vistosa Basílica de São Francisco encontra-se dividida em dois patamares distintos. O acesso à área inferior é realizado através de um enorme pátio que por sua vez se encontra flanqueado por uma longa fileira de arcadas. No extremo oposto acedemos finalmente ao interior do templo que neste nível se assemelha a uma espécie de cripta com paredes forradas de pedra e no qual se encontra o túmulo do padroeiro da cidade.
Pela postura assumida por parte de alguns fiéis ali presentes, rapidamente tomamos consciência de que este é com toda a certeza o local mais sagrado do complexo. Apesar do constante movimento de pessoas o silêncio é respeitado e nós, meros observadores, esforçamo-nos para que a nossa presença não perturbe aqueles que num momento de introspeção se entregam de corpo e alma à oração.
Voltamos ao exterior para desta feita acedermos ao nível superior da Basílica. Se minutos antes nos impressionámos com a forma sentida como os fiéis se relacionavam com a religião, agora e perante tão grande beleza, é-nos quase impossível desviar o olhar de tudo o que nos envolve. Naquele primeiro impacto foi como se o nossa atenção se visse constantemente raptada para uma zona distinta daquela gigantesca tela composta por um sem número de frescos extremamente bem conservados. Tentamos tirar o máximo partido da visita e percorremos todo o espaço, não só em busca das mais famosas obras de Giotto mas também na esperança que nenhum outro detalhe importante nos escape.
Depois de uma volta completa à Basílica e satisfeitos com o que havíamos visto, resolvemos que estava na hora de dar por terminada a visita, até porque o local já registava uma ocupação para lá do aceitável e que não nos deixava desfrutar plenamente da experiência.
O caminho de regresso à Piazza del Comune fez-se com uma breve paragem estratégica num pequeno restaurante onde comprámos umas fatias de pizza que acabaram por ser saboreadas num pic-nic improvisado nas escadas de acesso à Igreja de Santa Maria Sobre Minerva. Ali sentados fomos observando o incessante vai e vem de pessoas que por agora vai dando vida às ruas envolventes. Veem-se esplanadas bem compostas, lojas sem mãos a medir e grupos de peregrinos ruidosos que se apertam para caberem na fotografia que testemunha a sua passagem pela cidade.
Quanto a nós preparamo-nos para as inevitáveis despedidas enquanto adoçamos a boca com duas bolas de gelado.
Ainda que tenhamos passado um dia bastante agradável, agora e de forma quase instintiva, sentimos que está na altura de dar por terminada a visita. No caminho de regresso a Perúgia vamos discutindo pontos de vista ao mesmo tempo que arrumamos as ideias sobre tudo o que havíamos visto.
Na nossa opinião Assis acaba por estar a ser vítima do seu próprio sucesso. É um lugar que ainda tem aquele ambiente de ruralidade mas que pouco a pouco parece estar a adotar tiques de cidade grande. E mesmo que tenha o condão de mexer com os sentimentos de quem a olha nos olhos a verdade é que está longe de a considerarmos um destino especial.
Valeu pela experiência.
INFORMAÇÕES ÚTEIS:
.COMO CHEGAR A ASSIS:
Partindo do princípio que o seu ponto de partida é a cidade de Perúgia, são várias as opções de transporte que lhe permitem realizar o trajeto até Assis. Contudo e tendo em conta a nossa experiência só podemos falar da forma como nos deslocámos entre estes dois locais.
Depois de alguma pesquisa percebemos que o autocarro seria a forma que mais nos convinha, uma vez que o preço do bilhete por trajeto é inferior a 2 euros e também porque nos levaria mesmo até ás portas da área mais antiga de Assis. O único inconveniente deste serviço é a pouca frequência a que circula, sendo por isso necessário informar-se previamente sobre os horários de forma a evitar surpresas indesejadas.
O táxi ou o comboio são igualmente opções a ter em conta ainda que não possamos garantir a qualidade ou a fiabilidade destes serviços.
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