Gosto de destinos que estimulem a minha imaginação e me façam entrar na pele de uma qualquer personagem do passado.
Em Bergamo assumi o papel de um cavaleiro medieval que às primeiras horas da manhã atravessa as muralhas da Cittá Alta e a galope no seu fiel cavalo vai percorrendo as ruas praticamente desertas de uma urbe que desperta agora para uma nova jornada. A pedra irregular e gasta que cobre o chão que percorro, dá-me a entender que muitos foram aqueles que cruzaram estes caminhos antes da minha passagem. Continuo a minha investida, passo pela imponente Torre del Gambito e sem qualquer resistência, vou avançando por entre o casario que por agora ainda se mantém de portas e janelas fechadas.
É à chegada à Piazza Vecchia que me deparo, pela primeira vez, com outros transeuntes que nesta bem encarada manhã de Agosto já tomam o pequeno almoço na meia dúzia de esplanadas que povoam o espaço público mais marcante da cidade. Ainda assim o ambiente é de calma e para já ainda não abafa o som da água que brota da Fontana del Contarini que em tempos talvez tenha matado a sede aos cavalos de outros cavaleiros. Atravesso as arcadas que sustentam o Palazzo della Ragione, passo pelo Battistero e sigo em direção à Basílica de Santa Maria Maggiore que me recebe com a sua majestosa decoração. O espaço é relativamente grande, contudo as paredes, as colunas e os tetos que o compõem parecem ser escassos para acolher uma tão maravilhosa representação da criatividade humana. Uma obra de arte de proporções épicas em que cada detalhe foi pensado e criado para impressionar todos aqueles que por ali passam, e até eu, protegido pela minha armadura imaginária, acabo por deixar o local meio atordoado perante tamanha demonstração de beleza.
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Dirijo-me agora para a Catedral de Bérgamo que numa outra ocasião iria certamente fazer-me soltar uma qualquer expressão de encantamento mas hoje, com o olhar literalmente saciado, o local acaba por não exercer o impacto que inicialmente antecipei. Ainda assim não me apresso na visita e sem a companhia de outros visitantes percorro a nave central que se prolonga até ao altar principal decorado com uma mão cheia de bonitos frescos. Antes de me despedir ainda me deparo com uma pequena capela que de forma quase inglória parece tentar fazer frente à incrível expressão artística que testemunhei não só no interior do Duomo mas também na Capella Colleoni.
Com tudo o que vi e experiênciei nesta passagem por Bérgamo poderia muito bem ficar por aqui mas tenho tempo e vontade para ir mais além.
Inevitavelmente regresso ao exterior. No relógio que adorna a Torre Civica os ponteiros aproximam-se das onze horas e a minha viagem imaginária acaba por ser subitamente interrompida pelo burburinho que neste momento envolve as principais vias da cidade, levando-me a procurar locais mais tranquilos que me dêem a oportunidade de voltar a assumir o meu papel de cavaleiro.
É então numa pequena ruela, espremida entre a Catedral e a Basílica, que surge o desejado ponto de fuga que me permite realizar uma espécie de retirada estratégica.
Bastam cinquenta metros para reencontrar a tranquilidade que testemunhei aquando da minha chegada à cidade e mais uma vez, acabo perdido num labirinto de pedra que me trás à memória a minha viagem a Perúgia. Após várias subidas, descidas, avanços e recuos alcanço a Torre della Campanella e logo depois a Piazza della Cittadella.
Atravesso uma das antigas portas e antes de prosseguir com a visita aproveito para adoçar a boca com um gelado de Stacciatella no Café La Marianna, local que reclama a sua invenção.
De forma a poupar as pernas opto por seguir viagem no Foniculare San Virgilo que em menos de nada me transporta até aos pés do Castello San Virgilo, situado numa das áreas mais elevadas da cidade. Aproveito o dia solarengo para caminhar por entre o casario e para ir à antiga fortaleza mas, por mais que me esforce, confesso que para lá da vista não encontro outros motivos que justifiquem uma passagem mais prolongada por esta zona.
A descida até à Cittá Alta é tão rápida como a ascensão. Sem surpresas vejo-me de novo abraçado pela constante inquietude da Via Bartolomeo Colleoni que com as suas inúmeras lojas e restaurantes é talvez a artéria mais comercial da cidade. De forma a não esticar demasiado o orçamento compra-se uma fatia de pizza que certamente irá aconchegar-me o estômago até chegar à zona baixa.
Passo sobre a imponente Porta San Giacomo e já no exterior da antiga muralha, acedo a um corredor de pedra que, sobre um denso arvoredo, me conduz até ao patamar onde se situa a malha urbana mais moderna de Bérgamo.
Mesmo que os planos traçados para este final de tarde ainda me levem até a Milão, não tenciono seguir viagem sem conhecer alguns dos pontos de interesse desta área. Primeiro na Viale Vittorio Emanuele II e depois na Viale Roma vou parando em alguns locais que merecem a minha atenção. No caminho até à estação ferroviária passo pela Torre dei Caduti, pela Porta Nuova e Chiesa Prepositurale di Santa Maria Immacolata delle Grazie.
Foram pouco mais de vinte e quatro horas em Bérgamo. Cheguei sem saber muito bem o que ia encontrar e agora parto completamente rendido à sua beleza. Tal como gosto, deparei-me com uma cidade sem grandes tiques de vaidade e que sabe receber quem a visita.
Quanto a mim, acabei por me sentir um pouco mais que um mero turista e na minha breve passagem pela cidade sonhei, acordei, vivi e apaixonei-me.
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