segunda-feira, 26 de junho de 2017

TRILHO DAS CASCATAS - VILA DE REI


Estamos no início do verão e o tempo abafado dos dias anteriores faz-nos antever que a tarefa que delineámos para o dia de hoje não será fácil.
Mesmo assim, aos primeiros raios de sol, já avançamos em direção à Vila de Rei. A viagem por estradas envoltas em verdejantes pinhais é rápida e à nossa chegada, aquela pequena povoação de casas pintadas de branco, ainda se encontra completamente despida de gente. Somente alguns cães se passeiam pelas ruas ainda adormecidas.
O carro é estacionado ao lado da Igreja Matriz e logo ali, num pequeno e típico estabelecimento comercial, bebemos um café que nos ajuda a despertar.  Enquanto trocamos dois dedos de conversa com a simpática senhora que cheia de energia que aproveita a fraca presença de clientes para organizar alguns produtos nas prateleira para lá do balcão.
O diálogo é curto mas acaba inevitavelmente por se focar na caminhada que iríamos realizar naquela manhã, e as palavras sábias de quem conhece o terreno acabaram por ser uma mais valia.

"...eu fiz o Trilho das Cascatas o ano passado. Como comecei aqui por baixo tive alguma dificuldade, pois apanhei muitas subidas. Se fosse hoje teria feito no outro sentido, na direção do polidesportivo...acreditem que é seguramente mais fácil."

Já estávamos a par dessa situação e eram exactamente esses os nossos planos. Ainda assim foi bom termos mais aquela opinião sábia. 
Como este é um trilho circular, existe a possibilidade de realizar a caminhada (que se prolonga por cerca de dez quilómetros) no sentido dos ponteiros do relógio ou inverso.
Depois de alguma pesquisa percebemos que a segunda hipótese tem, segundo dizem, um nível de dificuldade mais acessível e foi nessa direção que decidimos avançar.



Os primeiros passos do trilho (que tem a designação de PR1) são ainda realizados no interior da Vila, pela estrada que segue na direção do estádio de futebol. A certa altura o asfalto dá lugar à terra batida e já relativamente longe do ponto de partida, penetramos no interior de uma agradável floresta de pinheiros, onde os sons e os cheiros da natureza tomam conta dos nossos sentidos. 





As indicações estão sempre presentes e vão-nos conduzindo sem erros até à Cascata do Escalvadouro, à qual chegamos pelo topo e de onde temos uma vista fantástica sobre o vale que se abre diante dos nossos olhos.
A descida à base desta grande queda de água é feita sem complicações de maior e é já sob os salpicos da pouca água que vai tombando que aproveitamos para nos refrescar.
A vegetação é cada vez mais densa e a temperatura parece aumentar a cada passo que damos. Caminhamos durante talvez uma meia hora, sempre acompanhando a quase seca Ribeira das Trutas que aqui e ali temos de atravessar.





Mais à frente fazemos nova pausa para beber água e numa espécie de pic-nic improvisado trincamos alguns dos mantimentos que trazemos nas mochilas.
A paisagem arrebatadora que nos rodeia tem o condão de transformar aquela pausa num momento incrível. O calor não dá tréguas e acabamos por não resistir a dar uns deliciosos mergulhos nas pequenas piscinas naturais alimentadas constantemente pelos frágeis fios de água que correm daquele leito repleto de pedras gastas pela corrente que seguramente aqui passa nos meses de inverno.



Soube-nos bem aquela hora passada entre mergulhos e merendas. Caminhamos agora através de uma pequena área habitacional que não consigo identificar se é uma aldeia ou somente um aglomerado de casas perdido no meio da mata.
Segundo o mapa que trazemos, nesta altura já devemos ter realizado metade do trilho que é agora cortado ao meio por uma qualquer estrada nacional que atravessamos com mil cuidados.
Há já algum tempo que nos separámos do curso de água que nos servia de ponto de referência e a vegetação envolvente é agora outra, tal como o odor que paira no ar. O pinhal deu lugar a uma densa floresta de eucaliptos que cobre as encostas que ladeiam o caminho seco e poeirento que percorremos.

Faltam pouco mais de dois quilómetros até à próxima cascata, indicação escrita na placa de madeira que temos diante nós. Sem surpresa, a floresta engole o caminho que subitamente parece desaparecer no meio dos fetos de tamanho invulgar e o som de água em movimento volta a pairar no ar, adivinhando-se a chegada a mais um pequeno ribeiro.
Meia dúzia de passos mais adiante o estreito curso de água é atravessado por uma ponte de aspecto frágil de onde já se avista a bonita Cascata dos Poios. Que visão incrível! 
Sem aviso prévio somos presenteados com uma leve brisa que faz balançar a copa das árvores ocupadas por bandos de pássaros que soltam uma melodia doce de se ouvir e que se mistura com o grunhir das rãs que indiferentes à nossa presença descansam nas pedras que ladeiam o ribeiro. 
Não temos pressa e fazemos mais uma pausa. A natureza foi generosa nesta zona e enquanto hidratamos os corpos, gastamos talvez uns quinze minutos a desfrutar do incrível cenário que nos rodeia.






Envoltos num mar de fetos e arbustos avançamos agora num ritmo mais apressado do que aquele que levámos até aqui.
De súbito o vale termina numa enorme escarpa rochosa de onde tomba mais uma cascata que apesar de lindíssima não conseguimos identificar no mapa.
O trilho segue de forma íngreme pela lateral e no local onde a subida se torna mais difícil, os nossos movimentos são amparados por cabos de aço que trepam connosco encosta acima.
Lá do alto e depois daquela que consideramos ser a parte mais difícil do trilho, somos presenteados com mais uma visão surreal e dou por mim a tentar reproduzir naquela tela real o trajecto que realizámos desde o inicio da caminhada... Foi obviamente impossível!




Depois de mais duas ou três quedas de água e de outras tantas paragens para descansar o corpo, voltamos a ter contacto com aos traços do progresso, personificados por uma estrada afastada que se prolonga por umas centenas de metros.
Vila de Rei já não deve estar longe...
...e não estava. Quase cinco horas depois de termos iniciado o Trilho das Cascatas estávamos de regresso ao ponto de partida.




INFORMAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ÚTEIS:

  • Percurso pedestre circular com partida e chegada a Vila de Rei.
  • Distância total de 10 Km's que pode ser realizada em ambos os sentidos.
  • O trilho tem uma duração média de 4 a 5 horas.
  • A caminhada tem um nível de dificuldade fácil/médio 
  • O percurso é realizável durante todo o ano,sendo o calor dos meses de verão e o piso   escorregadio dos meses de inverno factores a ter em conta na planificação do passeio.
  • É importante seguir sempre pelo trilho sinalizado
  • Respeitar e não danificar a fauna e flora existentes.
  • Não fazer lume
  • Não deitar lixo para o chão.

.ONDE DORMIR
A nossa escolha recaiu sobre as fantásticas Casas da Ladeira, situadas na pacata aldeia de Matagosa e a dois passos da tranquila albufeira da Barragem de Castelo de Bode e da Praia fluvial do Penedo Furado.
Dali até ao início do trilho das Cascatas são talvez uns quinze minutos de carro.
Ficámos fans da simpatia e da hospitalidade dos proprietários e acima de tudo do conforto que estas habitações típicas completamente renovadas nos proporcionaram.



PARA SABER MAIS SOBRE ESTA E OUTRAS VIAGENS,
ACOMPANHE O DIÁRIO DAS VIAGENS NAS REDES SOCIAIS: 

Sem comentários:

Enviar um comentário