Não somos pessoas de dormir para lá da conta e nesta viagem raras foram as ocasiões que deixámos que a preguiça se sobrepusesse à vontade de explorar o destino ou o local onde nos encontramos. Contudo também não nos vemos a acordar muitas vezes à meia-noite para caminhar, a não ser que esse esforço venha a ser recompensado com algo tão extraordinário como assistir ao amanhecer na orla da cratera de um dos vulcões mais ativos da Indonésia.
Foi então o desejo de contemplar com os nossos próprios olhos a beleza de um local único que nos levou a sacrificar cada uma daquelas preciosas horas de sono.
Apesar da hora vespertina, o improvisado parque de estacionamento presente a dois passos do início do trilho já assiste a um movimento de pessoas e veículos que poderia muito bem ser comparado a algumas áreas da sempre inquieta cidade de Jakarta.
Ainda que muitos dos visitantes realizem a ascensão na companhia de um guia, nós arriscámos percorrer o trilho por conta própria, juntando-nos aqui e ali a outros caminhantes que no meio da escuridão partilham connosco não só o entusiasmo mas também o esforço que a subida exige. Por entre conversas breves e silêncios que permitem repor o fôlego avançamos ao nosso ritmo, deixando que os passos sejam guiados pelas lanternas e pelos rasgos de luz que delas se soltam.
Sobre nós desenha-se um imenso céu estrelado que, para nosso contentamento, anuncia um amanhecer radioso, perfeito para que o grande astro se revele em todo o seu esplendor.
Depois de um trecho em que o caminho se mostra mais exigente alcançamos a orla da cratera que, pela falta de luz solar, ainda não revela as tais paisagens surreais que nos fizeram querer visitar este local.
Percebemos quase de imediato que muitos dos caminhantes optam por permanecer naquele ponto, tentando desde logo reclamar para si um pequeno pedaço de terreno que lhes permita assistir ao nascer do sol de forma confortável. Quanto a nós, conscientes de que ainda temos um par de horas até ao tão aguardado momento, esforçamo-nos para alcançar um trilho que segundo as informações recolhidas nos levará até a um nível inferior da cratera onde para além de testemunharmos o processo quase primitivo usado na extração do minério, também nos dará a oportunidade de vislumbrar as famosas chamas azuis.
Munidos com as máscaras de gás fornecidas gratuitamente pelo pessoal do hotel onde ficámos alojados descemos até ao local pretendido onde acabamos por enfrentar uma espessa nuvem de vapores tóxicos que parece não incomodar os mineiros que, em condições quase desumanas, recolhem com perícia o precioso mineral. Uns metros mais adiante cruzamo-nos com um pequeno mas impressionante foco das tão afamadas chamas azuis mas a passagem pelo local acaba por ser fugaz, uma vez que a forte presença de visitantes não nos permite ter a perspetiva desejada daquele fenómeno único.
É já com o céu pincelado de luz que nos instalamos sem grande conforto, aguardando pacientemente que o sol se mostre para lá das escarpas irregulares que dão forma ao vulcão. Pouco a pouco os primeiros raios rompem o horizonte revelando-nos um retrato sublime, no qual a enorme cratera com o seu lago azul turquesa se destaca por ser a peça mais vistosa naquela paisagem tão bela quanto fascinante.
O Ijen mostra-nos o quão incrível pode ser o poder artístico da natureza, mesmo nos cenários mais inóspitos. Sentados naquele camarote improvisado tentamos que nenhum detalhe escape à nossa atenção. Na vertente rochosa são agora bem visíveis as fumarolas assim como as diversas secções amareladas, férteis em enxofre e nas quais os mineiros, indiferentes à beleza do cenário, mantêm o ritual de extração.
À medida que o sol ganha altura uma parte significativa dos visitantes abandona o local e pouco depois das seis da manhã estamos praticamente sozinhos, com a liberdade desejada para explorar cada recanto daquela espécie de mundo das trevas. Caminhamos ao longo do trilho que pela direita contorna parte da cratera parando aqui e ali de forma a apreciar o vulcão de diferentes perspectivas.
Descemos mais uma vez até ao local onde horas antes havíamos visto as chamas azuis que agora, iluminadas pelo sol, parecem ter desaparecido. Quem nunca abandonou o seu posto foram os destemidos e incansáveis mineiros que apesar da nossa presença se mantêm focados na sua tarefa. Sem perturbar o seu trabalho observamo-los por largos momentos até que o vento muda de direção e empurra sobre nós uma espessa nuvem de gases.
Ainda esboçamos uma derradeira aproximação ao grande lago mas sem grande conhecimento do terreno acabamos por recuar.
O corpo começa a ressentir-se das tais horas de sono que ficaram por dormir e sentimos claramente que está na altura de regressar ao ponto de partida. O caminho é realizado a um ritmo mais elevado e num piscar de olhos chegamos ao parque de estacionamento que agora se apresenta praticamente deserto.
Bebe-se um café que nos aconchega o estômago e ao volante da "nossa" mota iniciamos o trajeto de volta a Banyuwangi.
Se há experiências que justificam uma noite mal dormida esta foi definitivamente uma delas.
INFORMAÇÕES ÚTEIS:
.COMO CHEGÁMOS AO VULCÃO IJEN:
Uma vez que o nosso ponto de partida foi a cidade de Cemoro Lawang (Monte Bromo), realizámos (numa primeira fase) a viagem numa van partilhada que nos deixou na estação ferroviária de Probolinggo, seguindo depois de comboio até Banyuwangi. Aí alugámos uma scooter que usámos para realizar o trajeto até ao local onde se ascede à cratera do vulcão Ijen.
Uma vez que o nosso ponto de partida foi a cidade de Cemoro Lawang (Monte Bromo), realizámos (numa primeira fase) a viagem numa van partilhada que nos deixou na estação ferroviária de Probolinggo, seguindo depois de comboio até Banyuwangi. Aí alugámos uma scooter que usámos para realizar o trajeto até ao local onde se ascede à cratera do vulcão Ijen.
.TAXAS E EXIGÊNCIAS PARA VISITAR A CRATERA DO VULCÃO IJEN:
Para ter acesso à cratera do vulcão Ijen é necessário cumprir algumas exigências assim como pagar uma taxa de entrada no valor de 150.000 IND.
É ainda exigido um certificado médico que comprove a boa saúde física e mental do visitante. Este documento pode ser facilmente obtido com a ajuda do seu alojamento em Banyuwangi e tem um custo que pode variar entre 30.000 IDR e 100.000 IDR.
.ONDE DORMIMOS EM BANYUWANGI:
Por ser um dos principais destinos turísticos da ilha de Java, a oferta de alojamento nas áreas localizadas ao redor da cratera de Ijen, ainda que simples, é vasta e capaz de satisfazer todas as preferências e orçamentos. Durante a nossa passagem por Banyuwangi ficámos hospedados num pequeno hotel, situado na estrada que segue em direção do vulcão, que sem proporcionar grandes luxos acabou por se revelar um excelente ponto de partida para a visita à cratera de Ijen. A L'Javas Villas encontra-se igualmente perto de algumas lojas e pequenos restaurantes.
.COMO ACEDER À INTERNET NA ILHA DE JAVA E EM TODO O TERRITÓRIO INDONÉSIO:
Se for daquelas pessoas que não faz questão de estar ligado à internet em permanência, então a rede wifi do alojamento assim como dos bares, cafés e restaurantes que frequentar durante a sua estadia será certamente suficiente para as suas necessidades. No entanto, se fizer questão de se manter conectado ao mundo digital de forma frequente poderá fazer como nós e adquirir um prático e funcional eSim. Durante a nossa viagem pelo Sudeste Asiático usámos a Operadora Saily que mostrou estar sempre à altura das nossa exigências, mesmo em algumas regiões mais remotas. Se optar por esta solução utilize os nossos códigos (PAULAE8084 & JOAOEN5015) e consiga 5 USD de desconto na sua primeira compra.
.QUAL A MELHOR ALTURA DO ANO PARA VISITAR A ILHA DE JAVA?
A melhor altura do ano para visitar não só a ilha de Java mas também praticamente todo o território indonésio é entre os meses de Junho e Setembro, altura em que os dias são maioritariamente solarengos e a probabilidade de ocorrência de chuva é relativamente menor. Na Indonésia existem duas estações distintas: a estação das chuvas que ocorre entre Outubro e Abril e a estação seca que acontece entre Junho e Setembro.
Tendo em conta que a ilha de Java se localiza numa região subtropical não é de excluir que, de forma ocasional, possam ocorrer perturbações climáticas que contrariem os padrões meteorológicos normais.
.PARA SABER QUAL É A MELHOR ALTURA DO ANO PARA VISITAR, NÃO SÓ, AS DIVERSAS REGIÕES DA INDONÉSIA MAS TAMBÉM OS RESTANTES PAÍSES DO SUDESTE ASIÁTICO CLIQUE AQUI.
.VISTO E FORMALIDADES FRONTEIRIÇAS:
Para qualquer viagem de cariz turístico, os cidadãos portugueses não necessitam de visto para estadias inferiores a 30 dias. À sua chegada à Indonésia o visitante deverá estar munido de um passaporte com validade de pelo menos seis meses no qual, depois de pagar uma taxa Rp 500.000, será carimbada a devida autorização de entrada no país. Se tal como nós pretender permanecer por um período entre 30 e 60 dias deverá deslocar-se ao consulado da Indonésia ou realizar todo o processo através deste SITE. Este visto poderá ser prolongado duas vezes (por 30 dias cada) até um período máximo de 120 dias.
Quer a chegada ao país aconteça por via aérea, terrestre ou marítima os visitantes deverão preencher o HEALTH PASS. Este registo deverá ser realizado previamente, indicando (para além dos dados pessoais) as datas de entrada e saída, assim como algumas informações relativas à saude do passageiro. Há também a necessidade de completar on-line uma DECLARAÇÃO ELETRÓNICA DE ALFÂNDEGA. Ambos os processos deverão ser realizados nas 48 horas que antecedem a sua chegada ao país, com o visitante a receber posteriormente um QR Code que deverá ser apresentado no ponto de entrada na Indonésia.
A ilha de Java é por norma um destino que não exije grandes preocupações a nível de saúde, contudo sugerimos a realização da consulta do viajante antes do início da viagem.
- OUTROS ARTIGOS SOBRE A INDONÉSIA (ILHA DE JAVA):
- Visitar Jakarta - Um dia na imensa capital da Indonésia
- Visitar Yogyakarta - Três dias incríveis na capital cultural da ilha de Java
- Templo de Borobudur - Visitar um dos mais belos monumentos da Indonésia
- Templo de Prambanan - Como chegar facilmente desde Yogyakarta
- Monte Bromo - Visitar um dos vulcões ativos da Indonésia
- OUTROS ARTIGOS SOBRE A INDONÉSIA (ILHAS DE BALI E LOMBOK):
- O que visitar em Ubud - Roteiro para uma estadia inesquecível
- Sul de Bali - À descoberta das praias da Península de Bukit
- Norte de Bali - A beleza da ilha dos deuses para lá das praias do sul
- Nusa Penida - Roteiro completo para 3 dias incríveis
- Nusa Lembongan e Nusa Ceningan - Descobrimos o paraíso ao largo de Bali
- Visitar Bali e as Ilhas Gili - Roteiro Completo para 15 dias
- Visitar a Ilha Gili Tawangan - Roteiro completo
- Visitar a Ilha Gili Air - Roteiro completo
- Visitar a Ilha Gili Meno - Roteiro completo
- Kuta - À descoberta das mais belas praias do sul de Lombok
- Monte Rinjani - Subir ao grande vulcão da ilha de Lombok
- OUTROS ARTIGOS SOBRE A INDONÉSIA (ILHAS DE KOMODO E FLORES):
- Wae Redo - Visitar a aldeia pedida no interior das florestas da ilha das Flores
- Vulcão Kelimutu - Visitar um dos mais belos locais da ilha das Flores
- Aldeias de Bajawa - Visitar o último reduto da comunidade Ngada
- Ilha de Komodo - Visitar o lar dos dragões gigantes da Indonésia
Sem comentários:
Enviar um comentário