Depois das visitas aos vulcões Bromo, Ijen e Batur terem marcado de forma intensa a nossa estadia nas ilhas de Java e Bali, fazíamos agora questão que os dias passados em Lombok também testemunhassem uma daquelas experiências que certamente recordaremos muito para além desta viagem. Mantivemos a intenção de viver algo único e após uma breve pesquisa demo-nos conta de que a subida ao mais imponente vulcão da ilha poderia muito bem ser o tal episódio extraordinário que desejávamos incluir no nosso roteiro. Ao vermos desfilar na internet imagens do enorme cone do Rinjani percebemos que teríamos pela frente um desafio que iria implicar algum detalhe na organização da jornada.
Contacta-se então algumas agências especializadas da região, questiona-se sobre as condições assim como os preços praticados e, conscientes de que a Hajar Trekking foi a escolha mais certa, agenda-se o pagamento e a data do início do tour.
SUBIDA À CRATERA DO VULCÃO RINJANI - DIA 1
As expectativas estão em níveis quase superlativos. A ideia de caminhar ao longo de paisagens dramáticas, de dormir sobre um céu estrelado e de por fim sentir a adrenalina de atingir um dos pontos mais elevados da Indonésia faz com que pouco consigamos fechar os olhos na noite que antecede o início da ascensão.
Nessa manhã optamos por um pequeno-almoço reforçado de forma a guarnecer o corpo com a energia necessária para fazer face ás exigências que a subida nos iria impor.
À hora marcada reunimos com o pessoal da agência que nos fornece, não só, algumas informações sobre as atividades previstas mas também uma ligeira refeição. Depois de se certificarem que nada falta aos caminhantes que compõem o grupo acedemos a um veículo de caixa aberta que nos deixa no local onde tem início a caminhada. Na companhia do guia alcançamos a entrada do parque nacional onde há que pagar uma taxa de admissão (incluída no preço do tour) assim como realizar um registo de forma a que as autoridades locais tenham conhecimento do número exato de visitantes que, naquele dia, acederam ao trilho.
Cruzamos o portal que assinala o ponto de partida daquele que porventura é o mais famoso trilho da ilha de Lombok conscientes que a partir de agora a subida será feita quase sem intervalos até à primeira das quatro áreas de descanso existentes ao longo do caminho.
Sob uma espessa floresta tropical seguimos quase sempre em fila indiana, dividindo o estreito trilho com os outros grupos de caminhantes que nesta fase inicial ainda se mantêm relativamente compactos. Apesar do calor tentamos manter um ritmo constante de forma a poupar energia para os desafios que mais adiante irão certamente exigir alguns esforços suplementares.
Inevitavelmente a humidade causada pela densa vegetação acaba por nos fazer transpirar bastante, obrigando-nos a sucessivas pausas para hidratarmos o corpo. À medida que os grupos se vão dispersando o silêncio ganha uma dimensão quase épica que parece só se deixar quebrar pelos misteriosos sons que escapam do interior da floresta. Neste cenário selvagem os nossos passos são quase sempre acompanhados pelo cantar dos pássaros que no topo das árvores parecem já não se incomodar com o constante movimento de pessoas.
A certa altura voltamos a escutar vozes humanas. Por entre a vegetação surge uma pequena clareira que segundo um painel ali presente assinala a nossa chegada à primeira área de descanso (POS I). Na pausa, de curta duração, trocam-se meia dúzia de palavras com os outros participantes enquanto bebericamos mais um pouco de água.
Antes de avançarmos para a próxima etapa do trilho o guia, sempre prestável, certifica-se do estado físico de cada uma das pessoas do grupo.
O terreno altera sucessivamente entre áreas quase planas e inclinações mais acentuadas que insistem em não dar descanso ás pernas. Em diversas zonas mais calcadas pelo sucessivo tráfego de caminhantes, o trilho é rasgado por robustas raízes que pela sua grossura exigem um avançar com atenção redobrada.
Por mais que uma vez cruzamo-nos com caminhantes que realizam o trilho no sentido descendente, talvez já na derradeira fase do tour que se iniciou na véspera.
As expressões que alguns deles deixam escapar fazem-nos crer que a experiência foi realmente satisfatória. Quanto a nós, ainda que evitemos criar falsas expectativas, a nossa imaginação acaba por se soltar, levando-nos a viajar até um momento em que já nos encontramos no topo da montanha.
Perto de POS Extra cruzamos um trecho mais instável que nos obriga a recuperar a concentração, tentando a todo o custo impedir que um qualquer passo mal calculado resulte numa escorregadela fatal.
Após quase duas horas de caminhada a inclinação do terreno começa a deixar marcas e, por meia dúzia de minutos, o ritmo acaba por ser quebrado. O guia presta-se de imediato para nos dar algum apoio, informando-nos de que estamos a uma curta distância da terceira área de descanso (POS II).
A agitação neste local é muita. É aqui que aparentemente será servido o almoço preparado pelos incansáveis carregadores. Distribuídos por vários pontos distintos encontram-se mais de três dezenas de caminhantes que ali tentam repor a energia que se foi esgotando ao longo da primeira fase do trilho.
O guia surge logo depois acompanhado de quem ficou para trás e com o dedo em riste indica-nos o local que nos está reservado. Numa espécie de pic-nic improvisado já estão distribuídos sobre uma lona diversos pratos de plástico guarnecidos com o típico mie goreng que à vez vão sendo recolhidos por cada uma das pessoas que compõem o grupo. A refeição é simples mas extremamente reconfortante e acaba por proporcionar alguns momentos de convívio antes de iniciarmos mais uma investida à vertente do Rinjani.
De forma a não deixar arrefecer os músculos optamos por encurtar aquele período de descanso e voltamos a encarar a exigência da ascensão.
Ainda que a paisagem se tenha alterado ligeiramente no derradeiro par de quilómetros, a vegetação continua ainda bem presente, o que faz com que em certas ocasiões nos vejamos a caminhar numa espécie de mundo de sombras, criado pelas copas das árvores que dão um certo ar misterioso a todo aquele enquadramento.
Cruza-se mais uma área de descanso (POS III) e com o grupo sempre coeso entramos naquela que, segundo as informações transmitidas pelo guia, será a etapa mais exigente do dia.
A vegetação passou a ser maioritariamente rasteira mas a neblina que entretanto tomou conta da paisagem só permite que vislumbremos a espaços algumas secções da vertiginosa vertente do vulcão. Depois de mais de cinco horas de caminhada esta é a primeira vez que temos a verdadeira consciência da dimensão do feito alcançado.
À medida que ganhamos altitude a respiração acaba por fluir com menos facilidade e cada metro conquistado ao Rinjani representa para nós uma deliciosa vitória rumo ao objetivo a que nos propusemos. Depois de ultrapassarmos o POS IV, o caminho é realizado por uma encosta rochosa, pouco estável e que não convida a pressas desnecessárias. Passo a passo vamos travando uma luta quase inglória contra o calor que no derradeiro ataque à cratera nos faz sentir falta da sombra das árvores que até há bem pouco tempo nos havia proporcionado uma valiosa proteção.
Todo o cansaço que nas últimas horas se havia apoderado do nosso corpo desvanece-se perante a explosão de deslumbramento que nos atinge no momento em que nos abeiramos do limite da cratera. Procuramos um local que nos permita ter uma visão periférica daquele cenário único e uma rocha mais saliente acaba por servir de varanda de onde, debruçados sobre um imenso vazio, avistamos claramente o lago Anak aninhado no interior do vulcão do qual desponta um pequeno cone formado após algumas erupções mais recentes.
O final da tarde traz com ele uma belíssima paleta de tons quentes que de forma progressiva vão tomando conta da paisagem. Já perto da tenda que nos servirá de refúgio para a noite, assistimos ao momento em que o sol cruza o horizonte enquanto aconchegamos o estômago com um delicioso punhado de pipocas preparadas minutos antes pelo pessoal do tour.
O jantar, bastante simples, é servido pouco depois e proporciona mais alguns episódios de confraternização entre os participantes. Antes mesmo da noite se apropriar totalmente do imenso céu que dali se avista, recolhemos à tenda onde apesar das comodidades serem bastante básicas se revelam amplamente suficientes para fazer face à curta noite que temos pela frente.
SUBIDA À CRATERA DO VULCÃO RINJANI - DIA 2
A alvorada acontece sem que necessitemos de despertador. Lá fora já damos conta de algum movimento que imaginamos ser causado pelos carregadores, talvez atarefados com a preparação da refeição que não tarda nada será servida aos caminhantes. Através do fino tecido que dá forma à nossa tenda vislumbramos alguma claridade que anuncia a chegada iminente do grande astro. Deixamos para trás o conforto (relativo) dos sacos cama e fazendo uso de uma generosa camada de agasalhos percorremos os terrenos ao nosso redor na esperança de encontrar um local que nos permita ter uma perspectiva mais ou menos desafogada do horizonte.
Para nosso desencanto constatamos que a localização do acampamento não é a ideal e que o espetáculo matinal que tantas vezes tentámos antecipar irá acontecer um pouco fora de rota do nosso campo de visão. Mesmo assim aguardámos pacientemente até que a estrela do programa surja sobre o ponto mais elevado da cratera (à nossa esquerda) revelando-nos, mais uma vez, a incrível beleza que nos havia arrebatado na véspera.
Embora quiséssemos permanecer ali por mais alguns instantes o guia aproxima-se para nos dar conta de que está na hora de tomar o pequeno-almoço. Como tinha acontecido até aqui a refeição é simples mas suficiente para repor as energias.
Seguem-se meia dúzia de minutos para reunirmos os nossos pertences e pouco depois marcamos encontro com os restantes membros do grupo no local onde iniciaríamos a descida. A partir daqui pouco há para contar. As mesmas paisagens, os mesmos obstáculos e os mesmo desafios, ainda que agora o caminho seja realizado com a sensação de que o objetivo está prestes a ser alcançado.
Se durante a ascensão cada metro conquistado ao Rinjani era visto como uma vitória, agora, com o corpo maltratado, cada passo dado faz-nos sentir que estamos cada vez mais perto dos merecidos dias de descanso que programámos ter nas praias de Kuta, situadas na costa sul da ilha.
INFORMAÇÕES ÚTEIS:
.COMO ORGANIZÁMOS A SUBIDA AO VULCÃO:
Conscientes de que a subida à cratera do monte Rinjani era uma atividade muito procurada fizemos questão de tratar de tudo ainda em casa, antes do início da viagem. Após alguma pesquisa descobrimos a Hajar Trekking que desde o primeiro contacto mostrou um enorme profissionalismo assim como disponibilidade para satisfazer os nossos desejos. Escolhemos as datas que melhor nos convinham, agendou-se o pagamento e acertou-se o local onde seriamos recolhidos pela equipa. No final e depois de concluída a experiência constatámos que esta foi a decisão mais acertada.
.ONDE DORMIMOS ANTES DE REALIZARMOS A SUBIDA AO VULCÃO:
Uma vez que a subida ao vulcão Rinjani é uma das atividades mais procuradas por quem visita a ilha de Lombok muitas são as opções de alojamento situadas nas áreas ao redor do local onde começa o trilho. A pequena aldeia de Senaru é por norma o local escolhido pela maioria dos caminhantes para pernoitarem antes da ascensão e nós não fugimos dessa tendência, ficando alojados nos bonitos bungalows Bale Sebaya. Esta pequena guesthouse encontra-se a dois passos do local onde se inicia a caminhada e já estava incluido no preço pago pelo tour. Foi também neste local que nos reunimos com os outros participantes assim como com a equipa da Hajar Trekking.
.QUAL A MELHOR ALTURA DO ANO PARA SIBIR À CRETÉRA DO VULCÃO RINJANI?
A melhor altura do ano para visitar não só o Monte Rinjani mas também praticamente todo o território indonésio é entre os meses de Junho e Setembro, altura em que os dias são maioritariamente solarengos e a probabilidade de ocorrência de chuva é relativamente menor. Na Indonésia existem duas estações distintas: a estação das chuvas que ocorre entre Outubro e Abril e a estação seca que acontece entre Junho e Setembro.
Tendo em conta que a ilha de Lombok se localiza numa região subtropical não é de excluir que, de forma ocasional, possam ocorrer perturbações climáticas que contrariem os padrões meteorológicos normais.
.PARA SABER QUAL É A MELHOR ALTURA DO ANO PARA VISITAR, NÃO SÓ, AS DIVERSAS REGIÕES DA INDONÉSIA MAS TAMBÉM OS RESTANTES PAÍSES DO SUDESTE ASIÁTICO CLIQUE AQUI.
.COMO ACEDER À INTERNET NA ILHA DE LOMBOK E EM TODO O TERRITÓRIO INDONÉSIO:
Se for daquelas pessoas que não faz questão de estar ligado à internet em permanência, então a rede wifi do alojamento assim como dos bares, cafés e restaurantes que frequentar durante a sua estadia será certamente suficiente para as suas necessidades. No entanto, se fizer questão de se manter conectado ao mundo digital de forma frequente poderá fazer como nós e adquirir um prático e funcional eSim. Durante a nossa viagem pelo Sudeste Asiático usámos a Operadora Saily que mostrou estar sempre à altura das nossa exigências, mesmo em algumas regiões mais remotas. Se optar por esta solução utilize os nossos códigos (PAULAE8084 & JOAOEN5015) e consiga 5 USD de desconto na sua primeira compra.
.VISTO E FORMALIDADES FRONTEIRIÇAS PARA A INDONÉSIA:
Para qualquer viagem de cariz turístico, os cidadãos portugueses não necessitam de visto para estadias inferiores a 30 dias. À sua chegada à Indonésia o visitante deverá estar munido de um passaporte com validade de pelo menos seis meses no qual, depois de pagar uma taxa Rp 500.000, será carimbada a devida autorização de entrada no país. Se tal como nós pretender permanecer por um período entre 30 e 60 dias deverá deslocar-se ao consulado da Indonésia ou realizar todo o processo através deste SITE. Este visto poderá ser prolongado duas vezes (por 30 dias cada) até um período máximo de 120 dias.
.CUIDADOS DE SAÚDE:
A ilha de Bali é por norma um destino que não exige grandes preocupações a nível de saúde, contudo sugerimos a realização da consulta do viajante antes do inicio a viagem.
A ilha de Bali é por norma um destino que não exige grandes preocupações a nível de saúde, contudo sugerimos a realização da consulta do viajante antes do inicio a viagem.
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