segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

GULHI - O FIM ANUNCIADO DO PARAÍSO

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Imagine-se uma pequena ilha banhada pelo Oceano Índico, habitada por uma comunidade local, onde não existem estradas pavimentadas e onde a electricidade é fornecida por um gerador que de tempos a tempos vai abaixo. 
Pois bem, essa ilha chama-se Gulhi e é onde me encontro há pouco mais de vinte e quatro horas.
Viemos ontem pela manhã, no ferry que faz o trajecto de Maafushi em direção a Malé. Connosco, além de alguns locais chegaram também um casal de espanhóis, que acabaram por ficar hospedados na mesma guesthouse que escolhemos. 
Desde que aqui estamos também já nos cruzámos com um grupo de cinco russos. Aparentemente somos só nove estrangeiros a partilhar este pedaço de céu, pelo menos durante mais umas horas, pois o barco da manhã acabou de passar e não trouxe novidades. Melhor assim!




Ontem ao final da tarde, enquanto passeávamos pela ilha, tivemos o privilégio de testemunhar a verdadeira essência desta pequena comunidade. Vimos grupos de raparigas que se entretêm sem precisar de internet ou smartphones. Ao passarmos, seguem-nos com o olhar, e quando as cumprimentamos sorriem envergonhadas, falam entre elas, parecendo "troçar"connosco ou com a nossa aparência. Cruzamos-nos com mulheres sentadas à sombra das palmeiras que discutem isto e aquilo e com homens que preparam as suas artes para mais uma noite de faina.
Perto do porto, vemos de um lado um estaleiro onde vários barcos são reparados e um pouco mais à frente sentados numa traineira, quatro crianças tentam por brincadeira apanhar alguns peixes. Um deles equipado à Cristiano Ronaldo acabou por meter conversa connosco.
É assim um dia na vida desta gente.
E nós sem mais alternativas, terminámos o dia sentados à beira mar a ver o sol desaparecer no horizonte.







Hoje o dia não será muito diferente. Passam agora pouco minutos das oito da manhã e a esta hora já desfrutamos dos primeiros raios de sol nesta bonita praia reservada aos turistas. Da meia dúzia de chapéus de palha e espreguiçadeiras que podemos usar de forma gratuita só quatro estão a ser utilizados. Até neste simples pormenor conseguimos perceber a quantidade de turistas que por aqui andam.



O mar continua lindo, pintado num azul difícil de descrever. Nunca ví nada assim. Lá ao fundo e tal como ontem consigo ver um grupo de golfinhos que se divertem a dar saltos e piruetas, como se se estivessem a exibir para nós. Mais logo vou tentar alugar um kayak ou uma prancha de Paddle de forma a conseguir chegar mais perto.
Mas isso é mais logo...talvez. Por agora ficamos por aqui a ver literalmente o tempo passar. Aproveito para escrever, ler, ouvir música ou simplesmente não fazer nada e a desfrutar desta calma que chega a ser stressante.
Quem nos conhece sabe que não gostamos de estar parados, mas esta viagem é acima de tudo para descansar e recarregar baterias.



Como já referi, Gulhi é um sitio muito pequeno e as cinco opções de alojamento existentes chegam e sobram para os poucos turistas que atualmente aqui vêm. Contudo parece que esta calma não irá durar por muito mais tempo.
Pouco a pouco o cimento vai invadindo este pequeno paraíso e por todo o lado vemos novas construções a serem erguidas. Mais hotéis estão a nascer, provavelmente já a antecipar a invasão de visitantes que seguramente vai acontecer nos próximos anos.
Será esta uma nova versão de Maafushi?

Quero pensar que não!
Quero pensar que a tranquilidade que se vive agora se vai manter por muitos e largos anos. Que nesta ilha em que todos se conhecem, as pessoas vão continuar a sair de casa e sem medo poderão deixar as portas abertas como hoje fazem. Que as crianças vão poder continuar a ir à escola e brincar livremente nas ruas como aquele grupo de miúdos que ainda ontem jogavam à bola à beira mar.
Será triste ver daqui a uns anos, estes meninos e meninas serem literalmente obrigados a abdicar da alegria em que hoje vivem, para passarem a ser tristes personagens que vendem na praia lembranças aos turistas ou que os barcos onde os homens vão à pesca se transformem em meios de transporte para os turistas darem passeios. Talvez no futuro as casa pintadas de cores vivas onde vivem famílias inteiras se convertam em lojas de souvenir's, supermercados ou qualquer outra estabelecimento para satisfazer os estrangeiros que trazem dinheiro no bolso.
Esta é a realidade em que temo ver transformado este pequeno paraíso. Por um lado sei que o turismo trás desenvolvimento e mais poder económico, mas sei também que há alturas em que se perde o controlo da situação e de um momento para o outro perde-se também a identidade de um povo.
Uma coisa é certa: ao percorrer as ruas cobertas de areia percebemos claramente que a transformação já teve inicio.
Conseguirão os habitantes de Gulhi parar antes que seja tarde demais?
Vamos esperar para ver...


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