Diário das Viagens: BYBLOS - VISITAR A CIDADE MAIS ANTIGA DO MUNDO

Numa banal conversa de café, ainda em Beirute, revelámos ao homem por de trás do balcão que o nosso roteiro nos levaria no dia seguinte até à cidade de Jbeil. De forma inesperada as feições do sujeito alteram-se e é já por entre sorrisos e um inexplicável brilho no olhar que somos bombardeados com uma longa lista de adjetivos abonatórios que nos deixaram ainda mais expectantes quanto a esse local "especial" situado a Norte da capital e que segundo percebemos viu nascer o nosso amigo de ocasião.

De súbito, depois de escutar aquelas palavras sábias, conhecer uma das cidades mais antigas do mundo tornou-se num objetivo tão apetecível como prioritário.

Queríamos ver, sentir e deixar-nos levar pelos encantos de Byblos e às primeiras horas do dia já seguíamos espremidos nos bancos traseiros de uma van em direção ao tal destino onde os registos do passado se encontram escritos nas ruínas deixadas por povos de outras eras.

À chegada, Byblos mostrou-se tão deliciosa quanto o pequeno almoço que tomámos numa pequena pastelaria situada a dois passos da zona antiga que nos recebe ainda meio adormecida. Há já um bom tempo que os sinos da Igreja medieval de São João Marcos assinalaram as dez da manhã e de forma surpreendente constatamos que a maioria dos comércios situados no interior das muralhas ainda permanecem encerrados, talvez este seja o reflexo de estarmos numa época do ano pouco propícia ao turismo.

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As ruas com as sua pequenas casas de pedra fazem-nos querer que a certa altura chegaram a testemunhar as movimentações dos cavaleiros cruzados, responsáveis pela construção do castelo que ainda hoje vigia os passos de quem por ali circula. Quantos acontecimentos e quantas batalhas estarão gravadas nas paredes de aparência sólida daquela fortaleza que é tão só a peça mais vistosa do vasto legado presente na zona arqueológica que a abraça. Aliás, é precisamente no interior daquela construção bélica que se encontra instalado um museu que expõe diversos artefactos recolhidos nos terrenos da região e que para além de nos ajudarem a entender um pouco mais cada um dos períodos históricos escritos, testemunham também a passagem por este local dos povos fenícios, gregos, romanos, egípcios, otomanos e cruzados. Devido à sua localização estratégica, Byblos foi durante um largo período um dos mais importantes interpostos comerciais do Mar Mediterrâneo que foi crescendo às custas da prosperidade económica que proporcionava.

Quando em 1860 tiveram início as escavações arqueológicas nesta área, o mundo estava certamente longe de imaginar que resultariam na descoberta de um dos mais incríveis patrimónios históricos da região do Médio Oriente. São mais de sete milénios que hoje se resumem a sucessivas camadas de terreno que guardam um sem número de memórias e nós, meio anestesiados, sentimo-nos privilegiados por poder pisar um tão valioso registo histórico.

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Para onde quer que olhemos há antigas construções que por momentos nos enviam numa espécie de viagem temporal. Vemos pequenos anfiteatros, colunas pertencentes a um antigo templo, sarcófagos de pedra e meia dúzia de pias esculpidas na rocha que na nossa opinião mereciam estar em exposição num qualquer museu.

Estamos no mês de janeiro e mesmo que a meteorologia se mantenha de feição, os dias escoam-se de forma precoce, deixando-nos com poucas horas de luz para explorarmos como queríamos tudo o que Byblos tem para oferecer. Ainda assim esticamos o tempo o quanto podemos e é já com o sol a ameaçar encerrar a jornada que nos encaminhamos para o porto marítimo em busca de um grand finale para um dia que já vai longo.

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Instalados num local privilegiado assistimos ao momento exato em que o grande astro se esconde para lá das águas do Mar Mediterrâneo. Do nosso camarote improvisado vemos o céu ser invadido por reflexos alaranjados e ao longe, saído de uma qualquer mesquita da cidade, chega-nos o som do chamamento para a oração, relembrando-nos que estamos num país onde a maior parte da população é muçulmana. De cerveja na mão, não somos uma vez que seja, alvo de algum tipo de comentário ou olhar reprovador.

Que o Líbano mantenha para sempre este espírito tolerante.

INFORMAÇÕES ÚTEIS:

.COMO CHEGÁMOS A BYBLOS

Chegámos a Byblos vindos de Beirute, contudo percebemos que também seria possível alcançar este local a partir de outros pontos do país. Ainda na capital do Líbano dirigimo-nos ao terminal rodoviário de Cola e por entre as diversas vans ali estacionadas procurámos aquela que seguia na direção desejada. Depois de uma curta espera e com os lugares todos ocupados despedimo-nos das sempre caóticas ruas de Beirute, alcançando a cidade de Byblos em menos de uma hora.

No momento em que realizámos esta viagem a tarifa cobrada pelo trajeto foi o equivalente a 1 dólar/euro.

.ONDE TROCÁMOS DINHEIRO

Sabíamos que a crise económica que se abateu sobre o Líbano iria ter um peso considerável na forma como teríamos de abordar esta viagem uma vez que a constante desvalorização da moeda local só nos permitiria ter a perfeita noção do custo de vida no momento em que déssemos os primeiros passos no país. De forma a evitar surpresas desnecessárias optámos por não usar qualquer tipo de cartão bancário durante a nossa estadia, levando connosco o dinheiro que acharíamos ser suficiente para os dez dias que contávamos permanecer no Líbano. No momento de trocar os euros que trouxemos de casa por moeda local percebemos de imediato que a taxa "oferecida" pelos bancos era significativamente mais baixa que aquela que era praticada na maioria das casas de câmbio. A cadeia OMT por ser a mais conhecida (presente um pouco por todo o território) acabou também por ser o local onde efetuámos todas as transações de troca de dinheiro.

.ONDE GOSTÁMOS DE DORMIR EM BYBLOS

Por ser uma região do país bastante procurada nos meses de veraneio, Byblos encontra-se relativamente bem servida no que ao alojamento diz respeito. Ainda que sejam vários os hotéis existentes na área que envolve a cidade velha, optámos por escolher o Ahiram Hotel Byblos situado a uma curta distância da zona arqueológica. O Hotel tem também acesso direto a uma bonita praia sobre a qual se debruça uma enorme esplanada (pertencente ao hotel) da qual desfrutámos por diversas vezes. Os quartos são espaçosos, equipados com o mobiliário necessário para que o hóspede tenha uma estadia confortável. No nosso caso foi-nos reservada uma das acomodações situadas no último piso, orientada para as sempre azuis águas do Mar Mediterrâneo.