Depois de nos dias anteriores termos ficado agradavelmente surpreendidos com as visitas às cidades de Puebla e Oaxaca, confesso que chegámos a San Cristobal de las Casas um pouco expectantes quanto ao tipo de experiência que este local nos iria proporcionar.
A jornada ainda mal tinha começado, e nós, meio perdidos nas ruas do centro histórico, percebemos quase de imediato que estávamos num local bastante diferente daqueles que havíamos visitado até então. Neste primeiro contacto com San Cristobal de las Casas foi como se tivéssemos travado conhecimento com uma espécie de mundo paralelo, capaz de nos levar a acreditar que a longa viagem que nos trouxera até aqui nos havia afinal transportado para uma era longínqua sobre a qual já não temos qualquer tipo de memória.
Nesta pequena cidade situada no estado de Chiapas o dia-a-dia acontece sob a batuta de uma certa ruralidade na qual homens e mulheres fazem questão de não abdicar dos seus trajes típicos feitos de pêlo de cabra. São pessoas simples, maioritariamente de origem indígena que, por uma qualquer razão que desconhecemos, parecem olhar para os visitantes estrangeiros com uma certa desconfiança.
No Zócalo, apesar da hora vespertina, a movimentação já é grande. Nesta que é a principal praça da cidade várias dezenas de pessoas percorrem as bancas improvisadas de um singelo mercado no qual se vendem sobretudo bens de primeira necessidade. Numa das extremidades, sobre as arcadas de um bonito edifício, concentra-se uma pequena multidão que segundo percebemos espera pela sua vez para aceder ao interior do banco. Deverá certamente ser dia de pagamento por estas bandas!
Numa área distinta do espaço testemunhamos outro foco de agitação, contudo bem mais reduzido. Ao redor de uma carrinha da cruz vermelha vão circulando meia dúzia de funcionários da proteção civil que tentam (aparentemente sem grande sucesso) sensibilizar a população local para a toma da vacina contra a Covid-19 que por aqui aparenta ser um assunto que desperta pouco interesse. À nossa passagem não escapamos à abordagem de uma simpática jovem que ao perceber que somos estrangeiro e que temos a vacinação em ordem nos felicita de forma calorosa.
Entramos agora na Plaza de la Paz na qual a aglomeração de pessoas é visivelmente menor mas ainda assim considerável. No enorme terreiro encabeçado pela vistosa Catedral de San Cristobal de las Casas cruzamo-nos com mais uma mão cheia de vendedores e vendedoras ambulantes que se esforçam para chamar a atenção de quem ali passa sobre os seus produtos. A concorrência é feroz e ainda que os preços propostos nos pareçam irrisórios, os bolos, os cereais, os balões ou os gelados tardam em não seguir viagem para outras paragens. A única excepção aparenta ser um triciclo carregado com um par de bidons de metal, gerido por uma senhora de meia idade que se desdobra para satisfazer os pedidos que surgem de forma constante. Aproximamo-nos de forma a tentar perceber que produto é este que tem a capacidade de atrair sobre si um tão grande número de pessoas. Explicam-nos então que se trata de arroz cozido com leite e que nesta região é sobretudo consumido ao pequeno-almoço. Perante o delicioso cheiro que brota dos inúmeros copos de plástico que vão circulando à nossa volta ainda equacionamos em sentir-lhe o gosto mas a esta hora da manhã damos prioridade a um bom café.
Adiamos, por agora, esta nova experiência gastronómica.
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Durante a preparação desta viagem recolhemos diversos testemunhos que nos davam conta da meteorologia instável que de forma regular se faz sentir nesta região do país, tentando assim antecipar uma qualquer surpresa desagradável. Na bagagem trouxemos alguns agasalhos que afinal acabaram por não ser necessários. Apesar das nuvens serem presença quase constante, as temperaturas no mês de março revelaram-se bastante amenas, permitindo-nos continuar a dar uso aos nossos trajes primaveris.
Mas em San Cristobal de las Casas não é só o tempo que se destaca por ter uma personalidade difícil de compreender. Também o povo continua a confundir-nos as ideias com o seu inexplicável distanciamento.
Até no Mercado de Artesanato, situado aos pés da Igreja de Santo Domingo de Guzmán, as abordagens por parte dos vendedores são menos vigorosas, levando-nos a especular que este comportamento mais ou menos generalizado da comunidade indígena do estado de Chiapas, será talvez um mecanismo de auto-defesa assumido perante os ventos de mudança trazidos pelo crescimento da atividade turística.
À nossa chegada constatamos que a maioria das bancas ainda estão por abrir, contudo o mercado já apresenta uma atmosfera bastante agradável. Enquanto percorremos o espaço não deixamos de reparar nas cores garridas dos produtos apresentados, no cheiro doce do incenso que inunda os estreitos corredores, e claro, nos preços relativamente simpáticos. A visita a este local revigora-nos a moral que por consequência nos alimenta o corpo com uma dose extra de energia que nos ajuda na incursão que realizamos à zona alta da cidade.
Deixamo-nos guiar pelo instinto que a seu bel-prazer nos conduz por ruas de calçada irregular abraçadas por longas fileiras de edifícios coloridos. Percebe-se claramente pela aparência modesta das construções que estamos numa das áreas habitacionais de San Cristobal e, por consideração aos que ali vivem, optamos por limitar o número de fotografias realizadas. A indiscutível crença religiosa da população reflete-se na quantidade de Igrejas que connosco se cruzaram desde a nossa chegada. Ainda que neste passeio algumas possam ter escapado ao nosso olhar, gostámos especialmente da Iglesia de Mexicanos e do Templo del Señor de la Transfiguracion.
A necessidade de aconchegar o estômago leva-nos a pisar os mesmos terrenos que percorremos ao início da manhã, desta feita em busca de algo que nos acalme a fome. Apesar deste regresso ao coração da cidade se fazer por caminhos distintos fazemos questão de lançar mais um cumprimento ao Zócalo que com uma palmadinha nas costas nos encaminha para a agora mais movimentada Calle Miguel Hidalgo. O dia já vai longo e os comércios estão, como seria de esperar, a funcionar em pleno. Não só as vendas mas também as esplanadas de restaurantes e cafés são por estas bandas uma espécie de território autónomo tomado por visitantes de outras latitudes. São muitos, mais do que todos os que havíamos visto até aqui, e no seu papel de invasores consentidos alimentam generosamente a economia da região. Quanto a nós, preferimos contribuir para o orçamento de um simpático casal de tenra idade que no meio de toda aquela movimentação é, perante o nosso olhar, a única peça no lugar certo. Um par de saquinhos bem guarnecidos com diversos tipos de frutas fazem por agora as vezes de um almoço improvisado, degustado uns metros mais adiante, já bem perto do Arco del Carmen.
Para as melhores vistas sobre o casario dizem-nos que as podemos conseguir a partir da Iglesia de San Cristóbalito, situada no topo de uma das colinas que vigiam a cidade. Degrau após degrau vamos galgando a longa escadaria em busca do prometido panorama privilegiado que para além de não nos impressionar acabou também por ser interrompido por meia dúzia de minutos de chuva.
O céu volta a cobrir-se de uma espessa camada de nuvens que sem surpresas antecipa a chegada da noite. Sem tempo para nos alongarmos muito mais nas visitas, optamos por um passeio pelas ruas do centro histórico que neste final de dia nos revelam uma versão mais romântica de San Cristobal de las Casas.
SAN JUAN CHAMULA, UMA IGREJA E O TESTEMUNHO DE UMA EXPERIÊNCIA QUE DESAFIOU A NOSSA IMAGINAÇÃO
A uma dezena de quilómetros de San Cristobal de las Casas visitámos um dos locais que mais nos marcou durante os dias que permanecemos na região de Chiapas.
Apesar de termos lido bastante sobre o local, assim que acedemos ao interior da Igreja de San Juan Chamula percebemos que tudo o que ali se passa vai muito para além do que havíamos imaginado. O espaço é pouco iluminado, com um ambiente pesado e totalmente envolto numa nuvem de fumo proveniente das milhares de velas que ardem em simultâneo. Ao longo das paredes alinham-se várias dezenas de figuras e imagens de santos que em alguns casos são adorados pelos respetivos devotos.
Estranhamente não há uma única cadeira e cada uma das pessoas presentes senta-se ou ajoelha-se sobre o chão coberto de uma generosa camada de agulhas de pinheiro. Em diversos pontos do templo vão-se realizando rituais espirituais liderados por Xamãs que em língua Tzotzil vão entoando orações ancestrais, tendo certamente em conta as maleitas ou necessidades das pessoas/famílias que recorrem aos seus serviços. Em alguns casos esses rituais requerem a utilização de Coca Cola, Pox e (ainda que tenhamos evitado de ver) percebemos que também se realizam sacrifícios de galinhas.
No meio de toda esta atmosfera vemos crianças a brincar completamente alheias a tudo o que se passa ao seu redor.
Gostávamos de ter feito fotos que testemunhassem esta experiência incrível contudo são expressamente proibidas.
No meio de toda esta atmosfera vemos crianças a brincar completamente alheias a tudo o que se passa ao seu redor.
Gostávamos de ter feito fotos que testemunhassem esta experiência incrível contudo são expressamente proibidas.
INFORMAÇÕES ÚTEIS:
.COMO CHEGÁMOS A SAN CRISTOBAL DE LAS CASAS
Chegar a San Cristobal de las Casas implicou uma longa viagem de autocarro que teve como ponto de partida a cidade de Oaxaca. Foram cerca de doze horas que por opção realizámos durante a noite, de forma a rentabilizar o tempo limitado que dispúnhamos. Contudo, percebemos que é perfeitamente possível visitar San Cristobal de las Casas vindo de outros pontos do país uma vez que as ligações rodoviárias são frequentes e as empresas de transporte de passageiros da região propõem diversas ligações. Ainda que existam outras, a companhia ADO é a mais conhecida e aquela que parece controlar a maioria das rotas.
.COMO FOMOS DE SAN CRISTOBAL DE LAS CASAS PARA SAN JUAN CHAMULA
Chegar à pequena cidade de San Juan Chamula, tendo como ponto de partida San Cristobal de las Casas, revelou-se uma tarefa extremamente fácil. Para percorrer a curta distância que separa estes dois locais recorremos mais uma vez aos típicos coletivos (vans partilhadas) que por um preço bastante em conta realizam de forma quase constante o trajeto em ambos os sentidos. Foi neste exato local, situado na zona norte de San Cristobal, que apanhámos o coletivo para San Juan Chamula.
.ONDE GOSTÁMOS DE DORMIR EM SAN CRISTOBAL DE LAS CASAS
San Cristobal de las Casas assim como todo o estado de Chiapas tem vindo a ganhar algum destaque no panorama turístico e como consequência as opções de alojamento são cada vez mais vastas, satisfazendo assim as exigências e os orçamentos de quem visita a região. No nosso caso e como fazíamos questão de ficar num local que se enquadrasse no ambiente da cidade, acabámos por descobrir o Hotel Provincia, situado bem no coração do centro histórico. O espaço destaca-se não só pelo bom gosto na decoração, mas também pelo incrível pátio central, ao redor do qual se situam cada uma dos acomodações existentes e onde também é servido o pequeno almoço. O quarto que nos foi atribuído era espaçoso e equipado com uma cama confortável king size que nos proporcionou o conforto que precisávamos.
A nossa estadia foi curta mais os fatores acima referidos fizeram-nos ter a certeza de que a escolha não podia ter sido mais acertada.
Testamos, gostámos e aconselhamos o Hotel Província.
.A CRÓNICA COMPLETA SOBRE A NOSSA ESTADIA NO HOTEL PROVINCIA PODE SER LIDA AQUI.
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