Num par de horas o tempo mudou drasticamente. Já não há chuviscos, nem nuvens negras, nem aquele vento desagradável trazido pelo mar. O sol brilha como nunca e sobre as nossas cabeças estende-se agora uma infindável tela azul que no horizonte se funde com as águas calmas do Caribe.
Um autêntico devaneio da natureza que com certeza decidiu compensar-nos pelo seu mau humor matinal e que de certa forma acabou por condicionar a nossa visita a Tulum.
Tomamos aquele capricho meteorológico como um convite para uma tarde bem passada numa das muitas praias que connosco se vão cruzando ao longo da carretera.
Sem hesitações apontamos baterias para Akumal, que havia feito parte dos nossos planos em visitas anteriores, mas que por tantas outras razões nunca se concretizaram.
As indicações são claras e sem dificuldades encontramos o acesso.
Os muitos carros estacionados de forma desordeira na berma da estrada não auguram nada de bom. O trânsito na pequena e estreita rua que nos conduz à praia é infernal e quase nos faz dar meia volta. Não, vamos ficar e certamente havemos de encontrar um sitio onde deixar o carro.
Avançamos devagar e logo depois passamos por um parque de estacionamento onde cobram 50 MXN mas a anarquia rodoviária que ali se vive não nos convence. De forma negligente um tipo tenta arranjar vagas para os vários veículos que ali fazem fila. Dá ideia que há sempre lugar para mais um...
Entretanto somos abordados mais que uma vez por indivíduos que nos tentam vender um tour para poder ver as tartarugas que habitam nas águas daquela praia. Sorrimos e de forma simpática recusamos a oferta. A conversa repete-se uma, duas e três vezes.
Não muito longe da praia encontramos finalmente um parque de estacionamento com condições aceitáveis e onde cobram os mesmo 50 MXN.
Está feito! Só temos de retirar o carro até ás 18:00 uma vez que o espaço encerra depois dessa hora.
Vê-se claramente que este é um local extremamente turístico.
Ao longo dos derradeiros metros antes de chegarmos à praia cruzam-nos com pequenos supermercados, tiendas de recuerdos e lojas onde poderíamos alugar material de snorkel caso não tivéssemos trazido o nosso.
Mais uma vez somos interpelado por um jovem que nos pergunta se queremos nadar com as tartarugas. Recusamos... de novo.
Um passadiço de madeira faz-nos passar ao lado de um hotel onde alguns turistas bebem apetitosos cocktails sentados em pequenas mesas de plástico viradas para o mar. Quanto a nós e já com os pés na areia temos o primeiro vislumbre da fantástica praia de Akumal, que se prolonga por umas centenas de metros para o nosso lado direito e para onde decidimos avançar.
Talvez por ser domingo, a praia parece estar mais congestionada do que seria expectável. Além dos turistas, várias famílias da região aproveitam aquele que será com certeza o único dia da semana que têm para se reunirem.
Caminhamos uns metros em busca de uma sombra e sentado-nos sob uma das muitas palmeiras que se erguem ao longo do areal. O mar de um azul vivo está ali a dois passos e insiste em chamar por nós.
Um pouco mais à frente, em águas mais profundas, várias dezenas de turistas equipados com coletes salva-vidas aglomeram-se em grandes grupos talvez atraídos por uma ou mais tartarugas.
Depois de um banho que acabou por se prolongar por quase um hora, regressámos ás toalhas que entretanto já estavam ao sol. Reposiciona-las, comprámos umas cervejas a uma simpática senhora que por ali passou e ficámos sentados a observar aquele enquadramento tropical, embalados pelo som da musica latina que paira no ar.
O tempo está fantástico e convida a um passeio. Deixamos as toalhas e de mochila ás costas caminhamos até chegarmos a um grande resort de luxo, que inevitavelmente nos trás à memória a primeira vez que visitámos o México.
Há espreguiçadeiras espalhadas pelo areal e inúmeros chapéus de palha, que protegem do sol alguns hóspedes que aproveitam ao máximo aquela semana de dolce far niente.
Damos um mergulho rápido e estamos prontos para voltar para trás.
Sabe-nos bem aquele calorzinho no corpo e quase nos esquecemos que estamos ali para tentar ver as tartarugas que nadam algures nas águas que banham aquela bonita baía.
Após mais uns momentos de relax, lanço-me mais uma vez ao mar, desta feita devidamente equipado com o material de snorkel que viajou comigo na mochila.
Como não há ondas e rapidamente alcanço as boias que servem de limite aos banhistas. Atravesso-as e mantenho-me por ali, longe dos grupos barulhentos, numa área onde a profundidade não deverá ser superior a três metros e na qual o chão se encontra coberto de uma espécie de relva que segundo parece, serve de alimento aos seres marinhos que espero encontrar.
O tempo passa e começo a duvidar da minha sorte. Numa última tentativa resolvo afastar-me das boias, para um local onde a verdura que cobre o leito marinho é mais uniforme e onde seguramente aumentarão as minhas chances. Enquanto dou algumas braçadas mais vigorosas vejo um vulto que se move a um par de metros. Sim, é uma tartaruga e assim à primeira vista parece maior que aquelas que vi um mês antes nas Maldivas.
A adrenalina aumenta e por breves momentos venho à superfície para controlar a respiração e limpar a máscara que entretanto começou a ficar embaciada.
Quando volto a mergulhar aquele ser gracioso ainda ali está, e de repente, vinda não sei de onde aparece outra ainda maior. Faço algumas fotos enquanto aquele par de tartarugas pasta de forma tranquila, completamente alheias à minha presença.
Apesar da corrente, tento manter-me a uma certa distância, de forma a não incomodar aqueles dois animais que nadam de forma graciosa, numa espécie de bailado, tendo-me a mim como único espectador.
Infelizmente a atuação termina de forma tão rápida quanto começo e ambos os protagonistas se retiram de cena, deixando-me de novo só mas completamente rendido ao espetáculo do que acabei de presenciar.
Ainda meio atordoado regresso ao areal, com uma ânsia quase incontrolável de partilhar com a Paula as imagens e o relato da experiência memorável que acabei de testemunhar.
Seca-se o corpo sob um sol cada vez mais brando e bebe-se mais uma cerveja em jeito de comemoração.
Os ritmos tipicamente mexicanos que ainda pairam no ar e os tons alaranjados que vão aos poucos colorindo o horizonte têm o condão de transformar aquele final de tarde num momento delicioso... perfeito, sem filtros nem efeitos especiais.
Costumamos muitas vezes ser traídos pelas expectativas demasiado elevadas que trazemos na bagagem, mas neste caso Akumal não desiludiu e bastou-nos uma tarde para perceber que este local é muito mais que uma praia. É a praia das tartarugas.
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